Aos 26 anos, Mikaely Geórgia convive com uma dúvida desde a infância. Ela suspeita, mas não tem certeza sobre quem é o seu pai. Encarando uma Certidão de Nascimento incompleta por toda a vida, ela espera reverter essa situação nos próximos dias, quando receber o resultado do teste de DNA que fez no último sábado (17), na Defensoria Pública do Estado (DPE-PB), durante o mutirão de reconhecimento voluntário de paternidade “Meu pai tem nome”.
Em João Pessoa, Campina Grande e Patos, 108 famílias foram atendidas durante a ação, que aconteceu simultaneamente em vários estados do país através de uma iniciativa conjunta das Defensorias Públicas estaduais e do Conselho Nacional de Defensoras e Defensores Públicos-Gerais (Condege). Na Paraíba, além dos exames de DNA oferecidos gratuitamente pelo Hemocentro, o mutirão também contou com a parceria do Programa Cidadão, de emissão de documentos, gerido pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano (Sedh).
Como Mikaely, outras 35 pessoas se submeteram ao exame de DNA na Capital e no Interior. O resultado deve sair em até 60 dias, de acordo com o Hemocentro. Uma espera que, para Mikaely, vale cada segundo. Ela conta que a vontade de saber quem é o seu pai existe desde a infância, mas só há alguns anos a mãe dela revelou o nome do senhor Roberto Salvino.
“As nossas famílias se conhecem no interior, tem contato. Quando eu comecei a perguntar quem era o meu pai, a família dizia que era ele, mas com desconfiança. Eu e ele conversamos algumas vezes, mas sempre com essa dúvida. Então fiquei sabendo do mutirão e vi que seria a oportunidade de finalmente esclarecer isso. Perguntei se ele se incomodaria de fazer o exame e ele aceitou tranquilamente”, conta Mikaely. Embora a ansiedade pelo resultado seja grande, ela garante que o coração está tranquilo. “Seja o que Deus quiser. Se for positivo, ficarei feliz em saber que ele é o meu pai e que me reconhecerá como sua filha. Se der negativo, não mudará o carinho que eu já tenho por ele”, disse.
FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA – Mas a investigação de paternidade com exame de DNA não foi o único serviço oferecido na ação. Também foram feitos reconhecimentos biológicos voluntários e de paternidade e maternidade socioafetivas. Foi o caso da dona de casa Laudeci Calixto, que esperou 12 anos para ver o seu nome na Certidão de Nascimento da filha.
Ela conta que criou a filha biológica do seu companheiro desde os 21 dias de nascida. A mãe biológica da criança, conta a dona de casa, desapareceu depois de deixar a filha com o pai ainda recém-nascida. Muito emocionada, ela diz que realizou um sonho: “Tudo que eu mais queria nessa vida era isso. É o melhor presente que eu poderia ganhar e sou muito grata a Deus e a Defensoria Pública”, disse.
BALANÇO – Em João Pessoa, dos 25 atendimentos feitos pelo Núcleo Especial de Proteção à Infância e da Juventude (Nepij), 19 foram acompanhados de coleta de sangue para o exame de DNA. Mais 38 atendimentos foram realizados pelo Programa Cidadão, com a emissão da Carteira de Identidade Nacional (CIN) de crianças e adolescentes. Em Campina, 24 famílias foram atendidas no mutirão, sendo 17 encaminhadas para exame de DNA. Em Patos, foram 21 atendimentos e nove testes de paternidade.
Esta foi a primeira vez que a Defensoria da Paraíba conseguiu estender o mutirão para duas unidades do interior. Em 2022, a ação chegou até Campina Grande e, no ano passado, apenas a Capital realizou o mutirão.
“A ação ‘Meu Pai Tem Nome’ tem sido um sucesso crescente na Paraíba. Em 2024, expandimos para mais três cidades, alcançando um número ainda maior de famílias que buscam o reconhecimento de paternidade. Esse aumento na participação reforça a importância do projeto e o impacto positivo que ele tem na vida dos paraibanos”, avaliou o coordenador do Nepij, o defensor Rodrigues Júnior.
Por Larissa Claro