Defensoria Pública realiza posse popular de novos defensores em comunidade que luta pela regularização fundiária em João Pessoa
COSTA DO SOL
Defensoria Pública realiza posse popular de novos defensores em comunidade que luta pela regularização fundiária em João Pessoa
Antes de ocupar gabinetes ou atuar em audiências, o grupo de seis novos defensores e defensoras públicas da Paraíba começou sua trajetória pisando no chão de uma comunidade que luta pelo direito à moradia. A Defensoria Pública do Estado da Paraíba (DPE-PB) realizou, nesta sexta-feira (7), a posse popular dos seis novos membros da instituição na Associação Costa do Sol, localizada na região do Parque das Trilhas, em João Pessoa. O território, que há décadas busca sua regularização fundiária, tornou-se o espaço simbólico escolhido para marcar o início da carreira de quem tem, como missão, defender direitos e promover justiça social.
A iniciativa fez parte do curso de formação promovido pela Escola Superior da DPE-PB, em parceria com o Núcleo Especial de Cidadania e Direitos Humanos (Necidh). A posse popular já se consolidou como prática da instituição, reforçando que o primeiro compromisso dos novos defensores é com o povo e com o território onde atuam.
Durante a solenidade, crianças da comunidade participaram de apresentações culturais e foram responsáveis por entregar pessoalmente os diplomas aos novos defensores públicos: Amanda Silva Farias Dias Pereira, Bruna Freitas do Valle Dias, Davi Malveira Pinheiro, Larissa Lima Barcellos de Araújo, Heloísa Bezerra Lima e Priscila Mendonça de Albuquerque.
COMPROMISSO COM O TERRITÓRIO – A defensora pública-geral da Paraíba, Madalena Abrantes, reforçou que a escolha da Costa do Sol para a posse simboliza o que a Defensoria acredita: justiça feita a partir do território e da escuta.
“Estar aqui hoje significa reconhecer a força desta comunidade. Vocês resistem, lutam e mostram que pertencem a este espaço. A Defensoria está aqui para caminhar junto e garantir que nenhuma família seja tratada como invisível. Que esta posse inspire os novos defensores a lembrarem que o nosso trabalho só faz sentido quando estamos perto das pessoas, olhando nos olhos e construindo soluções coletivas.”, afirmou.
A diretora da Escola Superior da Defensoria Pública, Monaliza Montenegro, destacou que ocupar os territórios é condição para transformar a realidade social — inclusive a partir da formação dos novos defensores: “Não existe pacificação social sem enfrentar as estruturas que produzem desigualdade. A concentração de terra, que expulsou uns para privilegiar outros, está na raiz da violência que vivemos hoje. Romper essa lógica começa aqui: entrando nos territórios, ouvindo as pessoas e amplificando as suas vozes. A Defensoria não ‘dá voz’ a ninguém — ela amplia. E é isso que estamos fazendo quando colocamos a comunidade no centro do processo de decisão. Que essa chama que move vocês hoje permaneça acesa durante toda a trajetória na instituição. Defensorar é sonhar junto e permanecer lado a lado das pessoas.”
ATUAÇÃO NA COMUNIDADE – A defensora pública Fernanda Peres, coordenadora do Necidh, acompanha a comunidade há mais de dois anos e relembrou o início do trabalho: “Quando chegaram as primeiras intimações para desocupação, havia medo e insegurança. Eram famílias morando há 30, 40 anos, antes mesmo da criação da área de preservação. Organizamos articulações, reunimos a universidade, buscamos soluções projetuais. Hoje, a regularização está a caminho, assim como equipamentos públicos que vão transformar este território.”
Ela fez questão de enaltecer as lideranças locais: “Nada disso seria possível sem a força das lideranças da comunidade, que nunca desistiram e seguem mostrando para a cidade que ocupar é existir.”
A liderança comunitária Darcy reforçou que ver a posse realizada no território é prova de que a luta tem sentido: “Por anos, nos disseram que a gente não podia ficar. A Defensoria chegou, nos ouviu e nos tratou como gente. Hoje, ver nossos filhos entregando o diploma dos defensores mostra que a luta vale a pena. Esta comunidade tem história e tem futuro.”
SENTIMENTO – A defensora recém-empossada Heloísa Bezerra Lima representou o sentimento do grupo.”É um momento realmente muito especial pra gente estar aqui na comunidade. A compreensão de que ‘defensorar’ é estar junto com o povo e que isto é fundamental para o nosso dia a dia. (…) Então, eu queria agradecer à comunidade, reforçar o nosso compromisso de construir junto com vocês e ladear qualquer luta que precise ser travada. Muito obrigada!”.
O defensor Davi Malveira Pinheiro lembrou a frase de Chico Science: “A cabeça pensa onde os pés pisam” e falou sobre a importância de aproximação com a comunidade. “Penso que ser defensor público é saber ser gente , lutar junto, sentar junto e se colocar à disposição. É sentir a dor do outro, porque, sem isso, as leis não bastam”.
PARCERIA COM A UNIVERSIDADE – Docentes da Universidade Federal da Paraíba que atuam no projeto reforçaram a importância da atuação extensionista junto à Defensoria. A professora e arquiteta Marcele Trigueiro afirmou que o trabalho representa uma mudança de paradigma no planejamento urbano: “A Defensoria trouxe a comunidade para dentro da decisão. Estamos escrevendo história.”
A professora de Direito, Alessandra Asfora, reforçou: “Não existe educação nem justiça social sem estar na rua, com as pessoas.”
RECONHECIMENTO DO JUDICIÁRIO – A solenidade foi acompanhada pela desembargadora Lilian Cananea, integrante da Comissão de Soluções Fundiárias do Tribunal de Justiça da Paraíba. Ela destacou a atuação da Defensoria: “A Defensoria mostra que não estamos falando de conflito, mas de solução. Trabalhar com amor, empatia e de mãos dadas é o que permite transformar realidades. O Judiciário está de portas abertas para construir essas soluções junto de vocês.”
PRESENÇAS – A cerimônia popular também contou com a participação de demais membros da Administração Superior da DPE-PB, além de defensores membros do Conselho Superior, representante da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (Sedh), entre outras autoridades.