Por: Larissa Claro – Publicado em: 09.05.2020
“Houve uma comemoração do Dia das Mães na escola, em que cada criança entregava uma rosa e um bombom a sua mãe. Quando chegou a minha vez, a professora precisou apontar para que ele pudesse se dirigir a mim e aquilo me doeu demais. Eu não queria que ele crescesse sem ouvir o próprio nome ou sem chamar pelo nome da mãe ou do pai”. Esse episódio foi um dos marcos da infância do jovem Wericles Mateus de Oliveira, hoje com 18 anos, e da sua mãe, a servidora pública Damiana Dantas de Oliveira, que vivem em Nova Floresta, Comarca de Cuité, há 230 km da Capital.
Diagnosticado com surdez profunda bilateral desde os 3 anos, Wericles fazia uso de implante coclear desde os 5. Damiana conta que, na época, quando ouviu na TV a notícia sobre o implante no Brasil, tinha a sensação de que seria necessário cruzar o oceano a nado para possibilitar que o filho tivesse acesso a esse tipo de tratamento.
Dois meses depois, leu, por acaso, que o tratamento já era feito em Natal (RN). Procurou o centro especializado e três meses depois Wericles foi chamado para uma avaliação. Um ano depois, com aproximadamente 5 anos, foi contemplado com o implante e inciou uma nova vida, passando a ouvir, falar e se alfabetizar.
Em outubro do ano passado, 13 anos depois, o pesadelo da surdez voltou a fazer parte da vida do jovem, quando o aparelho de alto custo quebrou. Nessa história de conquistas e vitórias ao longo dos anos, foi neste momento que a Defensoria Pública do Estado da Paraíba passou a fazer parte da vida de mãe e filho.
O aparelho chegou a ser enviado para São Paulo para avaliação, mas foi descartado, sem condição de recuperação. O custo do novo implante girava em torno de R$ 50 mil, um valor considerado muito alto para a realidade financeira da família.
“Logo que a gente soube que o aparelho não teria conserto, eu me senti muito mal porque ia começar a prejudicar a voz dele. Sem ouvir, ele fica muito isolado, não queria mais ir pra escola, queria ficar no quarto, sem fazer as atividades de rotina, como se estivesse depressivo, querendo chorar, tudo pela falta de uso do aparelho. Então aquilo doeu muito em mim, talvez mais em mim do que nele mesmo”, revelou a mãe.
EM BUSCA DA JUSTIÇA – “Damiana nos procurou muito desesperada, chorando muito, porque via o filho regredindo dia a dia sem o aparelho. Entramos com uma ação para obrigar o Estado a custear o novo implante e, felizmente, a ação tramitou de forma célere. Para a alegria de todos, ele recebeu o aparelho no mês passado e neste Dia das Mães terá todas as condições de homenageá-la sem a limitação dos últimos meses”, comemorou a defensora pública responsável pelo caso, Carollyne Andrade, da Comarca de Cuité.
Damiana conta que procurou a Defensoria Pública porque não tinha como pagar um advogado para garantir, na Justiça, que o poder público fornecesse o tratamento. “As peças do aparelho a gente até teria como conseguir, mas o aparelho não, porque é um valor muito alto. Então eu fui à Defensoria Pública, onde recebi a toda a assistência necessária, e consegui o aparelho que o fez voltar ao mundo dos ouvintes. Eu não tenho como agradecer o trabalho e o atendimento que eu recebi da Defensoria Pública”, agradeceu.