Covid-19: lançada na Paraíba campanha de solidariedade ‘Leite Fraterno’

Por: Ascom MPF-PB – Publicado em: 13.04.2020

 

Começou nesta quinta-feira (9/4), na Paraíba, a campanha de solidariedade ‘Leite Fraterno’, cujo objetivo é fornecer leite para a população em situação de vulnerabilidade social e, ao mesmo tempo, proporcionar sustento para cerca de 390 famílias de agricultores familiares – produtores de ovinos e caprinos, dos municípios de Barra de Santana, Caturité e Boqueirão, da região do Cariri paraibano.

A campanha, coordenada pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), iniciará pela capital do estado e conta com o apoio da Justiça Federal na Paraíba (JFPB), Ministério Público do Trabalho (MPT-PRT13), Ministério Público da Paraíba (MPPB), Defensoria Pública da União (DPU), Defensoria Pública do Estado da Paraíba (DPE-PB) e Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Paraíba (OAB/PB).

A campanha Leite Fraterno consiste em arrecadar doações em dinheiro para comprar caminhões de leite produzido pelos agricultores familiares. Cada caminhão tem capacidade de transportar 4 mil litros de leite que serão comprados a R$ 3,00 o litro, assim, a cada R$ 12 mil arrecadados, um caminhão de leite deixará o Cariri conduzindo o alimento para mitigar a fome de catadores de materiais recicláveis, pessoas em situação de rua, vendedores ambulantes, prostitutas, travestis, moradores de ocupações irregulares e indígenas venezuelanos que moram na capital, região metropolitana e municípios de grande porte. Dessa forma, além de beneficiar a população vulnerável, a campanha automaticamente ajudará 390 famílias de pequenos produtores que estão sem conseguir escoar a produção de leite por causa da quarentena em razão da pandemia da covid-19.

Como participar – Para contribuir com a campanha Leite Fraterno, basta depositar qualquer valor na Conta Corrente nº 1.065-0 da Associação dos Produtores de Ovinos e Caprinos do Cariri, Agência nº 5686-3 do Branco do Brasil, CNPJ: 04.721.878/0001-77.

Atualização – A conta bancária da Associação dos Produtores de Ovinos e Caprinos do Cariri (Apocca) aguarda liberação para receber crédito a partir desta segunda-feira (13). No entanto, em razão da urgência de alimentação da população que vive abaixo da linha da pobreza, inclusive com vários relatos de pessoas já passando fome, a campanha solidária Leite Fraterno disponibiliza uma segunda conta bancária para receber as doações já neste final de semana: Conta corrente 23.642-x, Agência 1654-3 do Banco do Brasil, em nome da empresa individual Casa do Criador com CNPJ 27.150.876/0001-70.

A Casa do Criador foi aberta para adquirir com melhores preços os produtos a serem fornecidos pela Apocca aos produtores associados, como forma de poderem realizar compra conjunta de ração para reduzir fretes e, assim, resguardarem a associação da agressividade do mercado.

Redes sociais – A divulgação da campanha Leite Fraterno está ocorrendo com a publicação de matérias nos sites oficiais e posts nas redes sociais dos órgãos e entidades que participam da articulação da campanha. Assim, para evitar a divulgação de publicações falsas, recomenda-se que as pessoas procurem os dados corretos da conta corrente nas páginas na internet e perfis oficiais dos órgãos apoiadores da campanha nas redes sociais: MPF, MPT, MPPB, DPU, DPE-PB, JFPB e OAB/PB. Confira, ao final dessa notícia, o endereço das páginas e perfis dos órgãos na internet.

Como será a distribuição – O leite chegará à população vulnerável de João Pessoa e região metropolitana através de entidades, associações e movimentos sociais e projetos que já estão atuando na entrega de cestas básicas e kits de higiene disponibilizados pelo governo do estado e prefeitura da capital, como o Hospital Padre Zé, Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD), projeto Rua do Respeito e o projeto Mobilização Inclusão e Formação de Catadores de Materiais Recicláveis da Universidade Estadual da Paraíba, além da Associação das Prostitutas na Paraíba (Aprós) e a Associação das Travestis e Transexuais da Paraíba (Astrapa).

Produtores – Segundo Dilei Aparecida Schiochet, militante do MST na Paraíba, a ideia de fornecer leite para pessoas em situação de vulnerabilidade no estado surgiu ao observar a situação das populações carentes nas cidades, sem terem o que comer, e a situação do campo, com produção sem poder vender. “A região de Caturité e Barra de Santana é uma bacia leiteira bastante importante na Paraíba e, após seis anos de seca, graças à mãe natureza ter contribuído muito com as chuvas, melhorou muito a pastagem”, explica Dilei. Ela conta que em recente visita aos agricultores produtores de leite dessa região, eles relataram que por causa da pandemia da covid-19, não estão conseguindo vender os queijos e estão com uma grande quantidade de leite sem acesso a mercados.

Diante desse quadro, a Associação dos Produtores de Ovinos e Caprinos do Cariri (Apocca) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Barra de Santana (STR) iniciaram a mobilização de agricultores familiares dos municípios de Barra de Santana, Caturité e Boqueirão para fornecer leite às pessoas em situação de vulnerabilidade no estado, mantendo a sustentabilidade das famílias agricultoras. A interlocução com o Ministério Público Federal foi feita através do MST, no dia 3 de abril, resultando na campanha Leite Fraterno, lançada nesta quinta-feira (9).

“Na Paraíba, nós temos o Cariri com uma alta produção de leite de caprinos e temos a região do Alto Sertão com muita produção de leite também. Tenho ouvido o apelo e o desespero dos produtores de leite da divisa da Paraíba com o Rio Grande do Norte, e é importante, inclusive, que haja em outros estados a mesma atitude que o Ministério Público está tendo aqui na Paraíba que é louvável”, pontuou a representante do MST, enfatizando que esse é um momento de mudança de atitude: “Você vê, através da imprensa, várias propriedades nesse país que destroem suas plantações, suas produções, porque não têm como comercializar esses produtos. Então, é um momento também da gente mudar essa forma de ser, de sermos mais humanos e partilharmos com os outros aquilo que a gente tem demais”, ponderou.

A militante ainda informou que, a partir desta sexta-feira (10), o MST fará várias doações de alimentos para instituições, iniciando pelo Hospital Padre Zé, na capital, com tubérculos como macaxeira, batata doce, e frutas como mamão, abacaxi e banana. “Vamos retribuir à sociedade aquilo que nós temos. É momento de nos solidarizarmos. Tenhamos a certeza que a partilha vai estar em todos os lugares. A região semiárida é uma região que agora está no período de plantio e é momento de plantar milho, feijão, jerimum. Choveu muito esse ano, vamos ter uma grande produção e vamos ter muita solidariedade entre nós”, festejou Dilei e alertou: “Agora, nós temos que ter essa relação recíproca de entender que a agricultura, os pequenos produtores são a base de uma nação. Sem soberania alimentar, sem alimento saudável, sempre ocorrerão novos vírus. A gente sabe que o nosso corpo e a nossa saúde dependem de um bom alimento, do alimento saudável, de se alimentar bem. Assim como as máquinas não caminham sem energia, ou sem combustível, o corpo humano precisa de muita energia, mas precisa de energia saudável para que a gente possa se recompor”, recomendou.

Choro de fome – Durante vídeoconferência realizada na tarde do domingo (5) com representantes das ocupações irregulares em João Pessoa e região metropolitana, Rosineide de Sousa, representante da comunidade São Pedro, localizada no Novaes, relatou que na manhã daquele domingo havia passado por uma situação “que não foi agradável” disse. Ela contou que, por volta das 10h30, durante o levantamento que fazia das famílias para receberem cestas básicas, chegou em uma casa da comunidade. “Quando me sentei, saiu uma criança chorando. Ele devia ter mais ou menos uns dois anos e meio. Eu perguntei à mãe dele por que ele estava chorando e ela falou para mim que era porque ele estava com fome e ela não tinha o que dar de comer a ele”, contou Rosineide sem conseguir conter as lágrimas.

“Uma hora dessa está todo mundo nas suas casas com seus armários cheios, mas a população baixa está aqui, sofrendo porque não pode trabalhar, porque quem cata reciclagem não pode ir buscar, não pode ir para a BR descarregar caminhão para ganhar R$50, R$30, R$20; não tem mais quem chame para ir fazer a limpeza de um mato e ganhar uns trocados”, lamentou a representante. Rosineide contabilizou 62 famílias em situação de extrema vulnerabilidade na comunidade São Pedro.

Mais municípios – O procurador da República José Godoy, membro do Ministério Público Federal, órgão que coordena a campanha em parceria com o MST, informou que o leite será distribuído em embalagens com a marca da cooperativa de laticínios Cariri, tendo em vista que, neste momento, são as embalagens que a associação dos pequenos produtores possui para o fornecimento, “embora o leite seja produzido pelos produtores da agricultura familiar”, salientou. Godoy também ressaltou que a campanha inicia pela capital e num segundo momento, conforme a evolução da campanha, a intenção é estender o fornecimento do leite a outros municípios do estado.

 

 

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